Os filmes policiais da última década pautam-se por terem protagonistas péssimistas, acabados para a vida ou com um drama familiar comum, seja a morte de um filho, o fim de um casamento ou até mesmo a morte de toda a familia. Este facto justifica assim o seu carácter despedaçado e a sua ambição única de resolver os casos a que são propostos, ligando pouco mais ao que resta da vida.
EmBlade Runner, Deckard(Harrison Ford) não perdeu absolutamente nada. Sem uma historia artificial e pré-concebida, Deckard é um ser vazio, despedaçado, mas por motivos concretos e visiveis ao espectador, e não por tramas familiares de puxar ao sentimento.
Em Blade Runner os personagens são o que são, desenvolvidos no filme sem a necessidade dos filmes actuais de recorrer a pré-concepções dramáticas que possam facilmente elevar o drama dos personagens sem qualquer profundidade.
Os filmes de ficçao científica da última década utilizam possibilidades argumentativas geniais, desenvolvendo ao máximo o imaginário futurista, utilizando novas tecnologias, tais como os ciborgues artificiais de Surrogates, que substituiem o ser humano na vida activa, enquanto estes ficam deitados numa cadeira em descanso, ou em filmes como Matrix onde universos cibernéticos sao criados para simularem a vida real, aos quais os seres humanos sao conectados, podendo simular inúmeras acções inacreditáveis.
Em Blade Runner não há necessidade de utilizar um mundo complexo para nos preencher a mente de sonhos. No filme de Ridley Scott, o universo, a cidade, é criada como um protagonista, sendo-lhe atribuída personalidade e características (chuva, fumo e o escuro da noite) que a demarcam de todas as outras cidades de qualquer filme de ficção científica.
Blade Runner mergulha-nos num ambiente pré-cuidado, mais cuidado até que um personagem, pois não nos podemos esquecer que é do ambiente e do universo que vive um filme, sendo depois desenvolvido no argumento e personagens.
Não há utopias que se destroem, não há sonhos que se iniciam, não há cidades futuristas que nos deixam boquiabertos apenas visualmente, sem corresponder de igual forma no argumento.
Em Blade Runner há um personagem-cidade que vive e respira como Harrison Ford, sendo-nos apresentado de forma directa e simples, mas com uma simbologia enorme em cada plano.
É por isto e muito mais, que Blade Runner é um dos melhores filmes de ficção científica de sempre e um dos poucos que consegue oferecer-nos uma verdadeira filosofia.
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