Caíam como se nada pesassem, como se não fossem deste mundo. Eram inúmeras, impossíveis de contar. Sentiam-se como toques suaves de algum deus superior. Era uma sensação diferente de algo terreno, era algo pseudo-divino, com uma certa influência natural. Conforme iam caindo sobre o corpo, tornavam-se maiores e diferentes na sua forma. Tornavam-se mais naturais, tão sem graça, perdendo a cor, aquela cor que possuem enquanto caiem, a cor que é impossível de definir.
Ao longe, uma folha verde sentia cada um destes toques. Em si pareciam pequenos feitiços, apenas com o propósito de serem belos. No corpo humano não são nada mais do que o espelho da solidão, cada uma delas ilustrando a sua própria solidão, o seu desespero. Na folha verde eram esbeltas e suaves, como se ali pertencessem, como se dali tivessem nascido. De tão belas que eram, demoravam mais tempo a escorregar na folha verde, a tal que lhes dava brilho, que lhes dava sentido.
As gotas caíam como se nada pesassem, como se não fossem deste mundo. No ser humano aparentavam não lhe pertencer, como se este não fosse parte da natureza. Na folha verde, sentiam-se acarinhadas e desejadas, porque a natureza ama sem ser preciso expressar-se.
E ali estavam, tão belas, as gotas e a folha verde.
Nenhum comentário:
Postar um comentário