sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Sexta-feira

Pela segunda sexta-feira seguida senti-me em 'casa'. Não é a casa a que tradicionalmente associamos, mas sim a casa que me trás paz e equilíbrio, mesmo que não haja nada para dizer, é uma presença que me faz sentir seguro.
As ruas de Lisboa apaixonam-me, seja onde for, fazem-me sentir bem.
Obrigado por mais um 'hoje'.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

O Cinema de Janeiro a 15 de Fevereiro

Um mês e meio decorrido neste 2008 aproveito para fazer uma pequena revisão sobre os filmes que visionei no cinema até esta data, por ordem de preferência:

1-There Will Be Blood- Paul Thomas Anderson
Não há muito a dizer desta obra-prima, é sem dúvida isso mesmo, uma obra-prima, com uma banda sonora excepcionalmente arrepiante, uma realização medida e perfeita, relações humanas extraordinárias e uma interpretação que ultrapassa o ser humano(daniel day-lewis).
'There Will be Blood' é dos melhores filmes dos últimos anos, e um exemplo de cinema no seu expoente máximo. 5/5

2-The Darjeeling Limited- Wes Anderson
Wes Anderson dá seguimento ao estilo que o popularizou, contudo de forma menos conseguida que o seu filme anterior.  História interessante e boa relação entre as personagens principais, tudo ao estilo de Wes Anderson. 4/5

3-Rambo- Sylvester Stallone
De forma simples e concisa, posso dizer que este John Rambo está um bom filme de entretenimento e acção, com boas sequências, filmado de forma  competente e bem ao estilo de um filme de acção que pretende o mais simples, entreter, com sucesso. 3,5/5

4-3:10 to Yuma- James Mangold
História interessante, algumas personagens bem construidas, porém a personagem do Russel Crowe é muito fraca e muito pouco desenvolvida. Pretende dramatizar cenas em que não é capaz, porque não consegue dar dimensão humana as personagens. 3,5/5

5-Atonement- Joe Wright
Filme que me surpreendeu, pelo anterior filme do realizador ter sido, na minha opinião, um fracasso total. Interpretações medianas e muito menos forçadas do que no "Pride and Prejudice", muito menos teatral e mais natural e  uma  realização mais cuidadosa tornam este 'Atonement', numa boa surpresa deste ano. Um filme interessante. 3/5

6-Charlie Wilson`s War - Mike Nichols
Filme simpático, com uma história bem conduzida, porém com os mesmos vicíos americanos, que tentam sobrevalorizar a pátria, da forma mais idiota possível(a forma heroíca). Tom Hanks tem um bom papel, tal como Philip Seymour Hoffman(melhor interpretação do filme).

7-No Country For Old Men- Ethan Coen, Joel Coen
Javier Bardem tem uma interpretação de gigante neste filme menor, em que Tommy Lee Jones é apenas parte do estúdio, entrando em cena algumas vezes, para despejar umas frases sobre moral e coisas da vida, de forma algo idiota e forçada. História interessante até certo ponto, até quando se começa a tornar repetitiva e algo irritante. Bons planos, boa realização. 2/5

8-Cloverfield- Matt Reeves
Filme completamente fracassado, com personagens vazias e sem espirito. Sequências de acção bem conseguidas, história banal e pouco surpreendente. Já vi este filme algures... 1/5

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

The Blonde Devil

Abriu os olhos e levantou ligeiramente a cabeça, o cenário era no mínimo bizarro. Encontrava-se num quarto completamente tingido de um líquido vermelho vivo. Era sangue, e à sua volta encontravam-se inúmeros corpos inanimados e desfigurados. Levantou-se e reparou na katana que tinha a seu lado, onde se encontravam gravadas as iniciais, “j.r.”, pegou na katana abandonou o quarto. O corredor estava cheio de luz e se dúvidas haviam, ela estava num hotel.
Karole Devalakov, ou Deva, como era conhecida, era uma rapariga polaca de vinte cinco anos, que vivia na entediante metrópole de Vienna. Não fazia ideia como tinha vindo parar aquele hotel, ela era apenas uma rapariga perseguida pela herança de seu pai. Deva era fruto de uma relação do Conde Miroslav Ivanschwitz da Aústria, com uma empregada de uma das suas casas na Polónia. O Conde surpreendeu todos ao deixar no seu testamento que toda a sua fortuna passaria para a sua filha bastarda, em vez dos seus dois filhos. Deva nunca pediu por tal herança, pelo contrário, o dinheiro nunca a atraíu, mas devido a este destino, é constantemente perseguida pela Máfia de Vienna, ou seja, pelos seus dois irmãos, que procuram a sua morte e fortuna. Para impedir tal acontecimento, Deva foi-se treinando ao longo dos tempos, e não tem sido um alvo fácil a abater.
Devido à sua beleza, olhos azuis, pele branca, cabelos curtos e dourados e à sua fisionomia sexualmente atraente, conseguiu reunir alguns “amigos”, de forma a que pudesse ter sempre auxilio.
Saiu do hotel sem que ninguém a visse. Na rua todos olhavam para ela, alguns por causa da sua beleza, outros devido ao cheiro invisivel do rasto de sangue que ela sempre deixava. Era uma mulher perseguida pelo seu passado e eram raras as vezes em que esboçava um sorriso.
Eram 23:30 e a bela e negra cidade de Vienna encontrava-se praticamente toda a repousar. Dirigiu-se ao único sitio onde se sentia bem, o “Bloody Valentine”, um café obscuro que era gerido pelo único verdadeiro amigo de Deva, Matthias Samsen, um homem com cinquenta e oito anos, com barba e cabelos cinzentos, que sempre cuidara de Deva.
Ao entrar no bar, todos os olhares se concentraram na esbelta e rebelde rapariga, que trazia sempre a sua katana atrás, contudo, todos voltavam as suas vidas quando Samsen resmungava algo para ninguém olhar para ela. Sentou-se ao balcão, de cabeça em baixo, e em tom seco pediu um moscatel, a única bebida que ingeria.
- Mais mortes hein? Atraís o sangue, mas deixa lá, aqui ninguém se importa- disse Samsen à rapariga, enquanto lhe servia o moscatel.
- Está quase no fim – respondeu ela.
Samsen ia perguntar o que é que ela tinha em mente, mas foi interrompido por Carl Brucken, que tinha entrado no bar. Brucken era amigo dos irmãos de Deva e controlava aquela zona da cidade, contudo não a perseguia, porque compreendeu que lucrava muito mais com ela viva...
Brucken entrou com os seus dois capangas e sentaram-se todos ao balcão. Deva parecia nem ter notado a sua entrada.
- Então Deva, já não cumprimentas o teu amigo? Ouvi dizer que andaste a fazer estragos no hotel Olympus – disse o desprezivel Brucken, que tinha sempre a barba por fazer e tinha a mania de usar um chapéu de cowboy.
-Os teus amigos foram fáceis de mais, arranja-me mais desafio...ah, e já agora vai-te foder Brucken! – afirmou calmamente a jovem rapariga.
Este, levantou-se furioso e ordenou a um dos seus homens que apontasse a pistola a Samsen, a confusão estava instalada.
Depois, Brucken segredou algo ao ouvido de Deva, que continuava sentada calmamente.
- Vá, queres que o teu velho morra? – perguntou sagazmente Brucken.
Deva levantou-se e dirigiu-se ás traseiras, Brucken seguiu-a mais um dos seus capangas.
- Não! Não o faças Deva! – disse asfixiosamente Samsen, ainda com uma pistola apontada à cabeça.
À porta do armazém, Brucken ordenou ao seu capanga que ali ficasse, e entrou lá para dentro com o ‘Diabo Dourado’, como por vezes chamavam a Deva, que continuava muito calma.
Rapidamente baixou as calças e fez o mesmo com a jovem, encostando-a à parede. A “violação” começou, de costas para a parede Deva nada dizia, enquanto Brucken a violava incansavelmente!
- Sabes Brucken, estou farta de ti! – disse a jovem rapariga, ao que o homem respondeu com um murmúrio.
Subitamente, um som agudo e intenso percorreu todo o armazém e Brucken começava a sentir uma agonia tremenda. Deva tinha acabado de lhe dar um tiro nos testículos!
- AHHHH!!! – gritou ele em pânico! Sentia tudo à roda, mas quando voltou a olhar para Deva, apenas viu o cano da pistola, e outra bala foi disparada, desta vez em direcção do seu cérebro. Estava morto! E o armazém coberto de sangue. Deva vestiu-se rapidamente.
Entretanto, o capanga que se encontrava à porta do armazém decidiu entrar, dando um valente pontapé na porta. Olhou para dentro e viu o seu chefe estendido no chão, coberto de sangue, com os seus miolos a servirem de decoração das paredes.
“Onde se teria metido a vaca”, pensara ele. Virou-se e sentiu um aperto ao mesmo tempo que ouvia o barulho do tiro, agora dentro da sua cabeça. Deva encontrava-se já do lado de fora do armazém e havia disparado novamente. Os miolos do capanga de Brucken confundiam-se agora com os do seu chefe. Saiu para o bar rapidamente e deu outro tiro certeiro no outro vilão, tão certeiro que este caiu prontamente inanimado no chão.
- Não o devias ter feito! E agora, o que vai ser do meu bar, de mim?? – perguntou Samsen algo exaltado para Deva, que se encontrava numa apatia total, e com a cara coberta de sangue. Limpou-se e pagou o moscatel.
- Até amanha Samsen, e não te preocupes, livra-te dos corpos que ninguém vai desconfiar de ti – disse a jovem rapariga, saindo porta fora. Ao longe, alguém a via sair, alguém que tinha visto o sucedido...
Acordou no outro dia, agora em sua casa, e com vontade de beber moscatel. Vestiu-se e decidiu ir ao café de Samsen, aproveitava e almoçava por lá.
Chuvia em toda a cidade de Vienna, os céus carregavam uma apatia e um claro cheiro a morte, Deva sabia-o, a morte andava sempre uns passos atrás dela. Quando abriu a porta para entrar no café, a expressão sempre calma da rapariga modificou-se e dava agora lugar a uma cara incrédula e completamente cheia de raiva e fúria. O café estava coberto de restos humanos e de sangue, tudo estava destruido. Não havia nada a dizer ou a pensar, estava tudo diante de Deva, da forma mais clara possivel. No balcão jazia espetada num pau, a cabeça de Samsen, o local do corpo era um mistério.
Deva serrou o seu punho com toda a força, tanta força que começou a sangrar da mão, e de forma firme disse em voz alta para todos aqueles cadáveres, mas em particular para a cabeça de Samsen: “Já te trago mais duas, meu velho”, e dito isto abandonou o local em direcção de um dos maiores edificios da cidade, o local onde se encontravam os seus dois irmãos. Entrar por ali, pela frente, era suícidio, mesmo para a grande Deva. A raiva interior que ela sentia era comparada a pouca coisa, mesmo à morte do pai, nunca tinha gostado muito dele, mas em relação à sua mãe a história era bem diferente. A mãe fora assassinada pelos dois irmãos de Deva, quando ela tinha oito anos, desde essa idade veio viver para a Aústria, para casa de Samsen, amigo pessoal da familia, que guardou todo o dinheiro de Deva, até esta atingir a maioridade. A vingança era mais que pessoal, e agora tinha chegado aos seus limites, havia apenas que pensar numa forma de entrar dentro daquela fortaleza, chegar ao último andar e matar os dois homens, que são seus irmãos.
Andreas Linz, que era porteiro do prédio dos irmãos de Deva, era casado com Linova Rasmussen. Tinham casado há pouco tempo e Andreas adorava olhar para o B.I. e ver “casado”. Contudo, a sua exposa não iria ver esse estado no seu B.I. por muito mais tempo, pois o seu marido, acabava de ser esmagado por um gigante autocarro que acabava de se enfiar pela porta do prédio dos Advogados Ivanschwitz(irmãos de Deva).
Com metade do autocarro dentro do prédio, os restantes guardas não demoraram a aproximar-se a a pontar as suas armas ao suposto condutor, porém quando abriram a porta do autocarro, outra explosão eclodiu, transfigurando-os em bocados de carne soltos.
Deva tinha enchido o autocarro com explosivos e feito com que este explodisse no momento em que abrissem a sua porta.
No meio deste aparato, Deva tinha entrado pelas traseiras e encontrava-se a subir os andares pelas escadas, um por um, enquanto toda a gente estava reunida em volta da explosão.
Tinha chegado ao último andar, atirou uma granada junto da porta e uns gritos por dentro faziam-se ouvir. Entrou ainda com o fumo e imobilizou quatro guarda-costas, com quatro tiros certeiros. Quando o fumo se dissipou, Deva reparou que um dos seus irmãos se encontrava no chão, a tremer completamente.
- Não irmã, não o faças!!! Nós nunca tivemos realmente intenção de te matar!!! – disse um dos seus irmãos.
Deva sorriu, e parecia acalmar, porém o seu irmão, que já se sentia mais calmo, não reparou na outra mão da irmã, que apontava uma arma, e prontamente começou a disparar. Deva sorria perante aquela matança. De repente, Deva sentiu uma dor horrivel, tinha sido atingida no braço, tentou saltar para outro lado mas foi atingida na perna e caiu no chão. Meio a restejar pôde olhar para cima e ver que o outro seu irmão se encontrava no tecto, numa pequena plataforma. Carol saltou e caiu no chão, vestia um smoking escuro e tinha um sorriso bastante maquiavélico.
- Não contavas com isto cara irmã. Obrigado por teres morto o nosso irmão, assim fico com toda a fortuna – disse o irmão à irmã.
Carol estava de costas para a entrada, que se encontrava completamente desfeita pela explosão da granada, mas no meio de todo aquele fumo, encontrava-se escondido um objecto que cintilava.
- Chegou a tua altura irmã, obrigado por teres guardado o dinheiro.
Deva sorriu novamente, era muito raro ver o “Diabo Dourado” a sorrir, mas era das coisas mais belas do mundo, a sua pequena boca a sorrir...
- Faz me um favor Carol, antes de te ires foder, olha para trás.
Quando Carol se virou, Deva pressionou um botão no seu fato, e de forma instantanêa, um arpão foi lançado directamente contra o corpo de Carol, perfurando-o agressivamente, e envolvendo o local numa mancha vermelha de sangue. Carol caiu no chão, aos poucos.
Deva levantou-se lentamente, ela tinha sempre um trunfo na manga, sempre algo menos visível que a pudesse ajudar. A sua missão estava terminada, tinha vingado toda a gente que lhe era importante, estava na altura de pegar no dinheiro da sua fortuna e sair desta cidade.
Pegou na cabeça de um dos irmãos e meteu-a dentro de um saco. Quando se preparava para arrancar a cabeça de Carol, reparou que este ainda estava consciente e murmurava algo...
- I-irmã, n-não penses q-que és só t-tu que tem trunfos - E dito isto carregou num botão no punho do casaco, que activou um sistema de alerta.
“EXPLOSÃO TOTAL DO PRÉDIO DENTRO DE 3 MINUTOS”.
Deva ficou gelada, não teria tempo para abandonar o local. Pegou na outra cabeça, pôs o saco ás costas e desatou a correr, o tempo era escasso.
Cada piso que descia parecia levar ao mesmo piso anterior, e assim sucessivamente. Estava no 35º andar e faltavam 2 minutos. 16º e faltava um minuto. 5º andar e faltavam 30 segundos.
Chegou à entrada, a 15 segundos da explosão final, o seu coração tremia de cansaço, quase sem respirar continuo a correr desenfreadamente, com uma perna em muito mau estado e um braço com muito pouca força, toda ela era um boneco de sangue.
A explosão de todo o prédio ouviu-se por toda a cidade, até ao Palácio da Sissi.
Por baixo de uns escombros, mais à frente do prédio, estava Deva. Levantou-se, estava num péssimo estado mas conseguia andar.
Foi cambaleando até ao café do seu velho amigo, completamente coberta de sangue. As pessoas passavam escandalizadas por ela, mas ninguém lhe perguntava nada.
Tinha chegado ao café, pôs duas bombas dentro do saco das cabeças e atirou-o lá para dentro.
“Aqui estão elas velho amigo. Havemos de nos ver outro dia...” – disse a rapariga num estado lastimoso.
Deva caminhava agora na direcçao oposta ao café, nas suas costas estava esse local que em breve deixaria de existir. Um minuto depois, nova explosão, o antigo café de Samsen ia pelos ares, e com ele muita gente importante.
Deva não tinha destino, o seu destino era onde ele estivesse, o único, o verdadeiro amor da vida de Deva...

FIM.