segunda-feira, 24 de março de 2008

Anjos

Abriu os olhos. Tinha parado de chover. Saiu de baixo do casaco do seu irmão e voltou a olhar para o exterior, as nuvens cinzentas persistiam no ar, contudo a chuva tinha fugido daquele local. Olhou para o irmão e reparou pela primeira vez na sua expressão em descanso. Tudo o que via era um amor, um amor maior do que qualquer detalhe menos estético, ou do que qualquer imperfeiçao.
Momentos antes, quando a foi buscar a casa, Jon reparou nos pormenores da sua vida, cada movimento do corpo da sua irmã era de um enorme esplendor, linda, querida, perfeita, o sorriso, os cabelos que teimavam seguir o vento, toda ela, como se de um anjo se tratasse. Quando entrou no seu carro abraçaram-se, e que abraço, durou uns bons minutos, mas não foram bons, foram excelentes. Sentia-a tão perto, sentia-se tao aconchegado, tão seguro, como se tudo estivesse ali, mas não estava. Ela chorava no seu ombro, problemas sem solução dizia-lhe ele. Foi um abraço que soube a vida, porque era sem dúvida esta a vida dele.
Porém, naquele momento, não estavam nesse abraço, nem no mesmo local. Ele dormia profundamente, e ela olhava-o, como se olhasse o melhor da vida. Não eram irmãos, apenas no coração.
“Irmão” – dizia-lhe ela ao ouvido, de forma gentil e meiga.
Ele acordou, como se tivesse dormido anos, e olhou pela janela.
Podia constatar que já nao chovia, porque as nuvens já se encontravam abaixo deles. Estavam muito a cima, sentados numa cadeira que só eles conseguiam sentir.
Para trás ficava o mundo, os maus e bons sentimentos, mas para a frente ficava o que realmente valia a pena.
“Irmão, chegámos.”
E tinham chegado, ao Paraíso.